MENSAGEM

quinta-feira, 5 de março de 2009

SOBRE DEUS.


SOBRE DEUS

ricardo gondim.



Não sei explicar as razões da minha fé. Não sei dizer os porquês da minha devoção. Sinto-me inadequado em convencer os indiferentes a desejaram a pitada do sal que tempera o meu viver. Tudo o que sei sobre o divino é provisório. Minha convicções vacilam. Todas as certezas são, decididamente, vagas.


Sei tão somente que Ele se tornou a minha meta, o meu norte, a minha nostalgia, o meu horizonte, o meu atracadouro. Apostei o futuro em seguir os seus passos invisíveis. No dia em que o chamei de Senhor, a extensão do meu meridiano se alongou, os retalhos do meu mapa se encaixaram, caíram os tapumes da minha avenida e o ponteiro da minha bússola se imantou.


Sei tão somente que Ele se fez residente no campus dos meus pensamentos. Presente nos vôos da minha imaginação, virou um doce ponto de interrogação. Causa de toda inquietação, tornou-se a fonte de minha clarividência.


Sei tão somente que Ele se desfraldou como bandeira sobre os meus ombros. E o cilício, as purgações, os sacrifícios, tudo foi substituído por desassombro. No porão da tortura, nos suplícios achei um ambulatório. Os livros contábeis, onde se registravam meus erros, foram rasgados. As punições, suspensas. Já não fujo dele como de um Átila. Eu agora o chamo de Clemente.


Sei tão somente que Ele ardeu o delicado filamento que acende a luz dos meus olhos. Ele foi o mourão que marcou o outeiro de minha alma como um jardim. Ele é o badalo que dobra o sino do meu coração; o alforje onde guardo as memórias.


Sei tão somente que Ele me fascina quando refrata a sua luz. O encarnado dele injeta o rubor do sol em mim. Seu amarelo traz o açafrão do mundo do mistério. O roxo, a púrpura da realeza. O branco, o pratear da lua. O preto, o nanquim celestial. O azul, a safira do mistério oceânico.


O que posso dizer de Deus? Nada! Espero, tão somente, que o meu espanto expresse reverência.


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