
Rifa-se um coração quase novo.Um coração idealista.Um coração como poucos.Um coração à moda antiga.Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado,meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos,e cultivar ilusões.Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Rifa-se um coração que nunca aprende.Que não endurece,e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,sendo simples e natural.Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.Esse coração que erra, briga, se expõe.Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.Este coração tantas vezes incompreendido.Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
parte do poema RIFA-SE UM CORAÇÃO de Clarice Lispector.