
Já se ouve cantar o negro,
mas inda vem longe o dia.
Será pela estrêla-d'alva,
com seus raios de alegria?
Será algum diamante
a arder, na aurora tão fria?
Já se houve cantar o negro,
pela agreste imensidão.
Seus donos estão dormindo:
quem sabe o que sonharão!
Mas os feitores espiam,
de olhos pregados no chão.
Já se ouve cantar o negro.
Que saudade, pela serra!
Os corpos, naquelas águas
- as almas, por longe terra.
Em cada vida de escravo,
que surda, perdida guerra!
CECÍLIA MEIRELES