MENSAGEM

segunda-feira, 15 de março de 2010

saudades.


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem, Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, cárie e pedra no rim...Tudo dói!
Mas, que mais dói é a saudade!Saudade de um irmão que mora longe...Saudade de uma brincadeira da infância...Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais...Saudade de alguém querido que morreu...Do amigo imaginário que nunca existiu...Saudade de uma cidade...Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.Doem essas saudades todas!Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama!


marcia oliveira.

confisão.


Não amei bastante meu semelhante, não catei o verme nem curei a sarna. Só proferi algumas palavras, melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.